Dá para sentir prazer na solidão?!
Você já descobriu que
estar sozinho é prazeroso. (item dez do primeiro post)
Os conceitos de
estar sozinho e solidão são comumente tomados com o mesmo peso emocional.
Estar sozinho, assim
como solidão têm peso de rejeição, abandono, marginalidade, etc., pelo menos na
maioria das vezes.
No entanto
podemos descobrir prazer e, em certos momentos até preferir ficarmos sozinhos.
Mas não é assim que a maioria de nós encara esse fato.
Vejamos então o
que podemos fazer para apreciarmos nossa companhia:
Leitura:
leitura é uma atividade basicamente solitária, mas se estivermos lendo um
romance ou aventura estaremos acompanhados o tempo todo com os personagens
cujas imagens nossa mente constrói, com as dicas do autor. Se estamos lendo um
estudo que nos interessa também estamos em uma atividade solitária, mas
acompanhando o que o autor descobriu ou está nos contando de suas descobertas e
a partir daí, você pode começar a perceber o quanto a sua própria companhia
pode ser agradável. Você tem imaginação, sabe construir imagens, sabe se
encantar e sentir-se “viajando e visualizando” os lugares que o autor indica e
que sua criatividade constrói de um modo muito particular.
O problema
maior que temos é que leitura não é uma atividade valorizada. Pelo contrário:
reservamos a leitura para aqueles momentos que podemos “perder tempo, ou quando
não temos mais o que fazer”.
Além do mais,
existe uma aversão comum à leitura. Acredito que isso se deva ao sentido
implícito de “perda de tempo”, junto com a má qualidade de muitas publicações
hoje em dia.
Leitura não é
algo incentivado, mas sim algo que é deixado para o momento que “não temos mais o que fazer”.
Dificilmente “não temos mais o que fazer”. Temos o nosso trabalho (obrigação) a
tv, computador, conversa com amigos (para não nos sentirmos solitários), jogos,
etc.
Analisando
novamente a “necessidade” inconsciente que nos assombra de estarmos cercados de
pessoas podemos perceber também que, pessoas que mantém atividades solitárias
nem sempre são bem vistas. São tidas como estranhas, muitas vezes esnobes, ou
como jargão popular diz: “pessoas que não querem se misturar”.
Além disso,
somos ameaçados constantemente com a ideia de que precisamos ter amigos ou
companhia devido a nossa possível necessidade no futuro; explico melhor:
Somos
incentivados a manter relações com outras pessoas pela possibilidade futura de precisarmos deles, e somos
orientados a agir com os outros visando essa garantia futura. Mesmo não
existindo uma dependência real, atual, agimos de forma inconsciente pensando na
retribuição futura. O futuro, segundo essa forma de pensar, é
supersticiosamente garantido pelo medo. E esse medo que alimentamos nos mantém na
dependência de outros.
Infelizmente
cultivamos a maioria das nossas relações muito mais por medo de agirmos
sozinhos.
Mas não é esse
o ÚNICO problema. Outro problema é que na medida em que acreditamos que seremos
incapazes de cuidar sozinhos de nós mesmos, regulamos nossas ações em função
dessa crença, isto é: não exploramos nossas reais possibilidades, não ousamos
além do que a limitação dessa crença nos impõe. Se formos muito eficientes,
além dessa nossa crença, vamos descobrir que precisamos menos dos outros do que
fomos orientados a pensar. E essa descoberta provoca um conflito que não
queremos sentir. Está incluída nesse conflito inclusive a confusão de ideias de
que, não depender, é não gostar do outro, ou outros. Ao nosso conceito de
independência está ligada a crença de frieza de sentimentos, coisa que não
corresponde ao que realmente ocorre com pessoas independentes.
As colocações
acima se referem a bloqueios que usualmente temos e nem ao menos percebemos.
Para que você
aprenda que solidão não é “um bicho de sete cabeças” e que É uma coisa boa que você deve cultivar, precisa permitir a
conscientização das dificuldades inerentes às determinações culturais, brigar
com elas, ampliar as alternativas na maneira de analisar a forma de ver o
mundo.
Os medos que
sentimos ao nos permitirmos tal abertura são perfeitamente compreensíveis, pois
desde pequenos somos ensinados que nascemos com o “pecado original”* entre outras tantas falas que só atuam como
demérito e desvalorização do ser humano. Isto é: você é por princípio um “ser
inferior”. Já nasce pecador, embora nem saiba o que isso significa.
Essa e outras
crenças culturais semelhantes enfraquecem as tentativas de desenvolvimento do
ser, considerando-se que essa e outras mensagens da mesma categoria são nos
passadas com frequência altíssima. Portando essa “coisa” com que você tem que
brigar se quer sair desse “enrosco” é poderosa e devastadora. Aqueles que saem
são verdadeiros heróis.
Gostaria de
falar a respeito de outras atividades solitárias que você também pode fazer,
mas fica para outros posts porque, como você viu, só falando de leitura esgotei meu espaço (o tamanho
do post foi um acordo feito por mim, comigo mesmo... no máximo três páginas do
Word...)
Uma boa semana
para você e até a próxima
Abraços, Iná
* “pecado original” - Embora
haja entendimentos diferentes a respeito do significado do pecado original, a
posição que é mais aceita e passada na educação é que o pecado original existe
para todo ser humano, pela herança recebida de Adão e Eva que desobedeceram as
ordens de Deus.
Équilibré
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