Blog da Clau: Iná Poggetti

A fantasia do imediatismo.

Desde que o homem é homem, ou pelo menos se imagina como ser que raciocina e pensa, elabora e etc. e tal, temos notícia do mundo, a civilização evoluindo. Não necessariamente para melhor.

Uma das coisas que considero atraso na evolução tem sido paradoxalmente, quando do avanço último da tecnologia.

Explico melhor: O computador faz cálculos numa velocidade que nenhum homem seria capaz. Máquinas vêm dentro de nosso organismo, dentro de superfícies sólidas, como nenhum homem seria capaz. Temos retorno de um site que pedimos em milésimos de segundos, temos retorno de uma carta por e-mail, com uma velocidade que nenhuma carta mandada por correio jamais conseguiu competir.

Podemos pensar em milhares de coisas que a pouco menos de dez ou vinte anos seria impossível. E com uma rapidez incrível.

O problema maior que vejo é que as gerações atuais não sabem, ignoram que esse “avanço”, essa rapidez só existe hoje, pois milhares de pessoas investiram num processo de paciência “de outro mundo”.

Erraram, frustraram-se, perderam tudo, começaram de novo e continuaram a investir naquilo que acreditavam, embora muitas vezes tenham sido criticados e achincalhados por suas “ideias malucas.”

Tudo o que temos hoje em dia, considerado melhoria para o ser humano está estruturado num alicerce de anos, para não dizer milhares de anos.

As coisas não surgiram do nada, tipo....puf!

Isso me leva a pensar na questão do imediatismo. Hoje uma pessoa quer conseguir resultados “do dia para a noite”; quer ter tudo pronto para seus projetos “para ontem”. Na primeira dificuldade, mudam de ramo, mudam de profissão, mudam de marido, de esposa, e alguns mudam de filhos e de família também.

Todo o investimento que é feito, fica na base do superficial. Nada se aprofunda. O conhecimento é o básico. De preferencia o imediatamente acontecido. Ontem já é passado e não importa mais, nem sequer serve para aprender com qualquer erro ou acerto que tenha ocorrido.

Vivemos “reinventando” a roda, pois não temos conhecimento que ela já foi inventada e há muito.

Onde fica o aperfeiçoamento, a melhoria? Onde fica o passar do superficial e explorar as coisas com mais profundidade, com mais investimento, com mais paciência. Como podemos ver além do superficial, se ao adotarmos imediatismo para as coisas só teremos a casca. Quando vamos nos dar conta que se isso não mudar, poderemos, num futuro bem próximo termos uma parada, um retrocesso?

Mas, o que é que estou falando, melhor, escrevendo? Olhando para a História, podemos supor que desde que o mundo é mundo, as coisas sempre foram assim.

Voltando somente umas centenas de anos podemos ver que tivemos a Idade Média, apelidada de Idade das Trevas, em seguida, o que chamamos de Renascimento, quando os homens começaram novamente a se preocupar em aprender e tirar boas lições da arte, música, poesia. A filosofia passou novamente a ser valorizada!

Agora, agora, qual parte de círculo vicioso da História estamos vivendo? E o que vamos deixar para as gerações futuras?

Vamos deixa-los viverem pensando que tudo o que temos hoje vem das lojas, o frango pronto vem do supermercado? Ou vamos fazer essa geração entender que tudo o que tem agora é produto de anos de investimentos e que por sorte o que eles estão vivendo agora é fruto do investimento de milhares de outros no passado?

Aos jovens de hoje: frango não “nasce” empacotado no supermercado, nem o leite “nasce” na caixinha que você pega no supermercado.

Final: quando você estiver investindo no seu futuro, pense nisso. Se tiver a fantasia que seus projetos vão acontecer por milagre do dia para a noite, que você sempre tem uma ideia nova, que elas são geniais e que ninguém nunca pensou nisso antes, sai dessa.

Tudo o que você pensar hoje, provavelmente, alguém já pensou ou já fez antes. Aceite isso. Melhore o que você tem, mas conheça antes o passado daquilo que você está querendo melhorar. Investigue, pesquise.

E nunca se esqueça que tudo o que você tem e faz hoje é por que alguém já te deu suporte para fazer, mesmo que você ainda não perceba e não saiba disso.

Para finalizar, ouvi uma vez uma piada que achei genial.

Uma pessoa pensando já ter tido todo conhecimento necessário para criar um homem, chegou à presença de Deus e disse para Ele: Deus! Já descobri como você fez o homem e hoje sou capaz de fazer o mesmo que você fez há milhares de anos.

E Ele, na sua infinita sabedoria perguntou: _Sim meu filho? E como você criaria o homem com seus conhecimentos adquiridos?

É simples; pego um pouco de terra...

E Deus, diante de tanta ingenuidade, nem o deixou continuar... e acrescentou... – espere um pouco, meu filho... use sua própria terra.

Não podemos nos esquecer que quando aqui chegamos, tivemos uma porção de coisas que foram deixadas por outros e que podemos também deixar para os outros que virão depois de nós, no mínimo a ideia de continuidade, perseverança e paciência.