Conflitos do Ser
Bem, acabamos
os itens do primeiro post (pulei alguns que me pareceram redundantes) e
gostaria muito que você me enviasse um tema para eu desenvolver. Prometo que
faço o melhor que puder.
Enquanto
aguardo sua participação, escolhi para hoje
discutir o aforismo abaixo do meu filósofo preferido que, como você já
deve saber é Friedrich Nietzsche.
“Quando
adestramos a nossa consciência, ela beija-nos ao mesmo tempo que nos morde”
Friedrich Nietzsche
Para começarmos, explico o que é um aforismo: é uma sentença curta,
condensada, que encerra um pensamento.
A esse respeito Nietzsche citou:
“O aforismo, a sentença,
nos quais pela primeira vez sou mestre entre os alemães, são formas de
«eternidade»: a minha ambição é dizer em dez frases o que outro qualquer diz
num livro -, o que outro qualquer «não» diz nem num livro inteiro....”
Friedrich Nietzsche.
Sabemos que ele escrevia grandes textos e
depois tirava o que achava essencial e publicava, além do que, dizia: "Os meus escritos são compostos de tal
maneira que interpretá-los exige uma faculdade muito especial, que os homens
modernos não têm, uma faculdade de ruminação; para entender os meus escritos
precisa ser de alguma forma vaca, isto é, precisa ter capacidade de ruminar e
perder tempo com eles", isso porque ele escrevia para os alemães de
cem anos atrás!
Agora que já falei um pouco sobre esse autor,
volto ao aforismo que me propus a discutir contigo: “Quando adestramos nossa consciência, ela beija-nos ao mesmo tempo que
nos morde”.
Vou colocar aqui o que eu penso que Nietzsche
tencionava com tal aforismo.
Pouco exploramos sobre nós a não ser quando
percebemos algum mal estar, desconforto. Geralmente nos comportamos segundo regras
culturais que seguimos fielmente sem discutirmos.
Mesmo quando sentimos mal estar, a nossa
tendência é procurarmos causas físicas para tais males. Não que elas não
existam, mas sabe-se que muitos sintomas físicos são provenientes de fatores
psicológicos que nem ao menos damos valor.
Podemos ver isso, quando para algumas
situações de depressão, chamamos de preguiça. É o que parece mesmo muitas
vezes, porque ao se deprimir uma pessoa perde vontade de fazer coisas que antes
ela fazia. Aí, por vezes confundimos com preguiça, relaxo, etc. Só vamos ficar
mais alertas, quando essa “preguiça” começa a tornar incapacitada a pessoa em
questão.
O grande problema que encontramos quando
investigamos nossa consciência, é que a maioria dos conceitos morais que nos moldaram
durante nossos anos de formação vão diretamente contra a nossa maneira “pura”,
digamos assim, de conceber o que vemos.
Já citei em artigos anteriores, o fato de não sermos iguais (leia o artigo aqui no blog da Cláudia
clicando no link anterior). No entanto isso é um conceito fortemente defendido
por uma maioria que prega que somos sim todos iguais e deixam um rastro de
reprovação para aquele que ousar ir contra tal ideia. Você admitir que não
somos iguais, implica em você ser achincalhado pela maioria de seus
relacionamentos.
Outro fator que cito como incompatível com a
forma que nossa consciência identifica as coisas são os preceitos de educação
que recebemos. Somos educados a falar a verdade, no entanto, determinadas verdades
não se fala.
Cito aqui, “À Minha
Volta, Reprovava-Se A Mentira, Mas Fugia-Se Cuidadosamente Da Verdade.” Simone
De Beauvoir, cujo texto
intitulado “Sobre o conceito da Mentira” você pode ler clicando no link acima.
O que quero dizer com tudo isso é que aquilo
que chamamos de “civilidade” nos tolda a visão de quem realmente somos. E nossa
consciência fica encoberta e obscurecida.
Acredito que essas são algumas das
especificações que se pode fazer, ao analisarmos o aforismo de Nietzsche.
Ao darmos ouvidos para nossa consciência, ela
primeiro nos beija, pois nos damos crédito, ouvimos nosso interior, nossas
raízes e nossa razão, e ao mesmo tempo nos deparamos com o conflito provocado
pelos conceitos que aceitamos e que batem de frente com o que é “natural”,
instintivo.
O que é chamado instintivo é tudo que o que é
chamado civilizado não aceita.
Veja o sexo, por exemplo. Ele está confinado
a privacidade e se sair desse contexto ele é imediatamente tomado como
escândalo. Veja formas diretas de se comunicar: geralmente quando você diz não a algo, você é imediatamente
catalogado como grosso, sem educação e por aí afora.
Podemos analisar muitas outras formas em que
quando adestramos a nossa consciência ela nos beija e nos morde ao mesmo tempo,
mas acho que, usando as referências acima você mesmo pode acrescentar itens
nessa nossa proposta, investigar sua consciência e identificar onde você é
beijado (a) e/ ou mordido (a).
Faça esse exercício: verifique o que você
pensa a respeito de determinadas coisas e o que você realmente expressa quando
está em contato com a comunidade na qual convive. Você vai entender muito bem o
que estou colocando.
Abraços, Iná. Até a próxima semana.
Équilibré
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