Sentidos, sentimentos.
Lembranças são coisas que
destacamos nas ocorrências de nossa vida e guardamos para nós. Fazem parte de
nossa percepção, sensação. Essas sensações e percepções geram sentimentos,
emoções.
Não é raro conversarmos com um
familiar e essa pessoa citar sobre você coisas que você jamais pensou ter
vivido, da mesma forma que você lembra sobre ela coisas que ela mesma não
lembrava. Percebemos e temos sensações diferentes, de momentos muitas vezes
vividos junto com essas pessoas.
Sempre escrevo sobre cuidar de
nós mesmos, valorizarmos a nós mesmos e lembranças certamente são uma forma de
checarmos em nosso passado coisas boas e ruins que podem continuar fazer parte
ou não de nossas vidas.
O que me chamou atenção sobre
tudo isso foi uma receita que escrevi para meu blog que chamei de “Rocambole
Exclusivo” , pois essa procura minha para postar algo para meus leitores me
lembrou situações vividas, antigas que me despertaram sentimentos gostosos e
ruins.
Num dia aí me vi com muitas
sobras na geladeira e senti que precisava fazer algo com aquilo, senão tudo
teria que ser jogado fora. Atentei para o sentimento de “necessidade” que eu
tive de tomar uma providência a respeito daqueles alimentos que iriam estragar
se eu não fizesse algo com eles. Eles variavam de:
Gostosos, pois me lembraram de
épocas ingênuas, que eu acreditava em tudo e todos. Pessoas cuidavam de mim e
eu as achava maravilhosas e perfeitas.
Ruins, pois foram tempos de
“vacas magras” como diz nossos ditos populares e sei que essa situação traz
ansiedade e angústia. Eu me via entre acreditar que essas pessoas perfeitas
teriam a solução para os momentos difíceis que estávamos vivendo. Ao mesmo tempo
sentia a insegurança delas diante do momento. Existia e ainda existe o
sentimento de “pecado” no desperdício. São os paradoxos que vivemos e praticamos
sem ao menos perceber.
Agora, percebo que tudo isso me
ensinou muito.
O saber fazer algo com aquela
comida foi gratificante, me senti capaz e competente. Ao mesmo tempo, um certo
conflito, pois me lembrava que aquilo estava ligado a um momento de escassez.
Não tem relação com o que vivo
agora, mas o conflito estava lá, tomando conta de mim e de minha ação.
Resolvi investigar a fundo a
situação. Perguntei-me qual a razão que uma ação saudável precisar trazer
conflito, misturado com satisfação de saber tomar uma providência de não deixar
aquilo estragar. Eu não poderia ficar somente com o sentimento saudável, bom,
útil, prazeroso?
Aquilo estava ligado também à
sensação de pobreza material que na época acontecia.
Não é o que acontece agora. Qual
a razão de eu ainda estar com o conflito?
Eu tinha certamente estabelecido
uma relação imediata entre várias coisas: reaproveitar o alimento, sentimento
de escassez, identificação da impotência das pessoas que eu amava e achava que
poderiam resolver tudo no mundo.
Enquanto pensava tudo isso, a
confecção do rocambole estava em andamento. Comecei a ver aquele resultado
bonito que eu estava conseguindo.
Senti que precisava urgentemente
mudar aquelas relações. O passado é passado, me ensinou muita coisa. A partir
dele hoje, analisando as coisas do dia a dia, desenvolvo muito meu pensamento e
meu sentimento de pertencer (a mim mesma – tenho uma história de vida).
Os momentos já vividos sempre
servem para aprender sobre o hoje, o agora.
E, as relações que resolvi
estabelecer hoje sobre o sentimento de reaproveitamento são:
As pessoas que eu amava e que eu
sentia segurança sobre elas, eram também pessoas que tentavam mostrar o melhor
de si mesmas, acreditando que era o melhor para todos. Nenhum de nós tem uma
receita de como proceder. Nós vamos pela tentativa e erro.
Reaproveitar significa respeito
para com aquele que trabalha e provê a família. Respeito por si mesmo quando
valoriza o outro.
Ensinar aqueles com os quais
convivemos, formas de serem criativos, formas de arriscarem (fazendo muitas
vezes misturas improváveis – que acabam dando certo), formas de tomarem
iniciativa em situações desconhecidas e inusitadas.
E, a relação com “pecado” fica
totalmente desvinculada, uma vez que o sentimento foi transformado em algo bom
– o sentimento de pecado está ligado a “fazer coisas erradas” e implicitamente
vem a punição como decorrência.
Afinal, o rocambole ficou divino
e tudo o que iria ser jogado fora se não houvesse providência, serviu muito bem
para alimentar o corpo e a alma.
Abraços, Iná
Équilibré
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